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Por que infartos, AVCs e transtornos mentais afetam cada vez mais jovens no Brasil

Uma crise silenciosa avança sobre a população jovem e adulta no Brasil. Doenças historicamente associadas ao envelhecimento, como infarto e Acidente Vascular Cerebral (AVC), estão se tornando cada vez mais comuns em faixas etárias mais novas. 

As recentes descobertas científicas demonstram uma conexão entre diversas condições de saúde, indicando que a progressão de uma doença pode influenciar o surgimento de outra. Por exemplo, em certos casos, o diabetes pode evoluir para hipertensão. Por sua vez, a hipertensão é reconhecida como um fator de risco para o Acidente Vascular Cerebral (AVC).

A situação é agravada por um fator estrutural do país: a desigualdade e a dificuldade de acesso aos serviços de saúde, que criam uma tempestade perfeita contra o bem-estar das novas gerações.

Para a realização desta reportagem, o jornalismo da Band contou com o auxílio da ferramenta Pinpoint, do Google, para analisar os documentos, estudos e pesquisas sobre aumento de casos das doenças mencionadas anteriormente nos adultos e jovens no Brasil.

O aumento de infartos e AVCs

Entre 2013 e 2023, o Brasil registrou um aumento de mais de 50% nas internações de adultos por infarto agudo do miocárdio e AVC, totalizando mais de 115 mil casos analisados pelo DATASUS. Nesse período, ocorreram 8 mil mortes, com um perfil etário chocante: mais de 76% das vítimas tinham entre 30 e 39 anos, e 23% estavam na faixa dos 20 aos 29 anos.

A taxa de internações de pessoas com menos de 40 anos por essas causas mais do que dobrou, passando de menos de dois casos a cada 100 mil habitantes para quase cinco em 2024, sem contar os atendimentos na rede privada. O cenário brasileiro é mais grave que a média global: enquanto no mundo 15% dos AVCs ocorrem em pessoas de 15 a 34 anos, no Brasil esse índice sobe para 18%, segundo a Rede Brasil AVC.

Epidemia de doenças crônicas

Recentes descobertas científicas demonstram que essas tragédias cardiovasculares são, muitas vezes, o desfecho de uma cadeia de outras condições de saúde.

Obesidade

A obesidade é um dos principais gatilhos. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde, o número de brasileiros obesos aumentou mais de 105% em 17 anos, saltando de 11,8% da população em 2006 para 24,3% em 2023. Uma análise do Ministério da Saúde focada em adolescentes de 12 a 17 anos já aponta que 17,1% deles vivem com obesidade.

“Os indivíduos obesos têm mais chances de desenvolver diabetes e hipertensão. Desta forma, os jovens que não cuidam da alimentação, não fazem exercícios e têm hábitos inadequados, como fumar e beber, têm mais chances de ser hipertensos”, alerta o médico cardiologista do Incor, Carlos Pastoreli.

Diabetes

Dados da Pesquisa Nacional de Saúde mostram que, entre 2006 e 2018, os casos de diabetes aumentaram 54% entre homens e 28% entre mulheres. A ligação com o peso é direta, como destaca o cardiologista Edson Stefanini, do Hospital Sírio Libanês: “Sem dúvida, a obesidade leva ao aumento dos níveis da pressão arterial e dos níveis de açúcar no sangue, caracterizando o pré-diabetes ou mesmo o diabetes tipo II. E a chamada Síndrome Metabólica, que constitui um risco elevado para as doenças cardiovasculares como o infarto”.

Hipertensão

A hipertensão, por sua vez, é um fator de risco direto para o AVC. Um estudo baseado em dados do sistema Vigitel, do Ministério da Saúde, mostra que 2023 foi o pior ano da série histórica iniciada em 2006, com 22,06% dos entrevistados fazendo uso de medicamentos para tratar a doença.

 Os fatores de risco apontados pelo Ministério da Saúde para o aumento da pressão alta no público jovem são um reflexo do estilo de vida moderno: má alimentação, sedentarismo, tabagismo, obesidade e consumo excessivo de álcool. "Adultos jovens muitas vezes envolvidos com excesso de trabalho em um ambiente competitivo deixam de se cuidar, reduzem as atividades físicas, muitas vezes se alimentam de modo incorreto com elevação do peso, excesso de álcool, estresse, pressão pelo sucesso financeiro…”, complementa Stefanini.

Saúde mental

Paralelamente às doenças físicas, os problemas psicológicos explodiram. Mais de 2 milhões de brasileiros sofrem com depressão e quase 2,5 milhões lidam com algum tipo de doença mental grave, como esquizofrenia, transtorno bipolar ou TOC. Entre os homens jovens, os transtornos mentais, incluindo o uso de álcool e outras drogas, são a principal causa de internação.

Contudo, o acesso ao tratamento é precário. Menos da metade dos jovens diagnosticados faz acompanhamento profissional. Na faixa de 20 a 24 anos, esse número cai para apenas 33,9%. Os motivos para não procurar ajuda são os mesmos da população adulta: falta de ânimo, longo tempo de espera por atendimento e dificuldades financeiras.

Desigualdade agrava a crise

Os fatores de risco e as doenças não afetam a todos igualmente. Um estudo do IBGE divulgado pela Fiocruz em 2019 demonstrou que a saúde dos jovens é marcada por desigualdades e violências. Isso se reflete diretamente no acesso ao sistema de saúde: 25,4% dos jovens de 18 a 24 anos relataram dificuldades para conseguir atendimento médico quando precisaram.

A saúde continua sendo a maior preocupação para famílias de menor renda e escolaridade, segundo o Instituto Data Senado. A obesidade, por exemplo, acomete mais mulheres, pessoas com baixa escolaridade e de raça/cor preta. Isso ocorre porque o contexto social e os sistemas de saúde disponíveis são determinantes.

A maioria dos jovens brasileiros (60,1%) é negra e vive em condições de vulnerabilidade que impactam diretamente a saúde. Dados do IBGE mostram que a população negra ou parda vive em maior proporção em áreas sem coleta de lixo, abastecimento de água e saneamento básico, condições que aumentam a exposição a doenças. Ironicamente, os jovens, que compõem o grupo mais afetado por essas novas tendências de saúde, são também os que apresentam a menor taxa de procura por atendimento médico.

 O cenário apresentado não é uma coleção de estatísticas isoladas, mas o retrato de uma emergência de saúde pública. A combinação de hábitos de vida deteriorados, sobrecarga mental e profundas barreiras socioeconômicas está erodindo a saúde da população jovem no Brasil, exigindo uma resposta urgente e multifacetada.

Fonte: Band.
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