A indústria calçadista brasileira, um dos setores que continuam pagando uma sobretaxa de 50% para exportar aos Estados Unidos, registra o maior número de demissões em uma década. Em outubro, foram cortados 1.600 postos de trabalho no país, de acordo com dados da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados).
Pela primeira vez em 2025, o número de empregos no setor em todo o Brasil fica abaixo do patamar do ano anterior, revertendo um cenário de crescimento que vinha sendo observado.
Mais da metade das vagas fechadas em outubro ocorreram no Rio Grande do Sul (910), estado que mais exporta calçados para os Estados Unidos. São Paulo aparece em seguida, com 152 postos de trabalho cortados.
Previsão de Mais Demissões e Impacto nas Exportações
O setor calçadista amarga prejuízos por ainda estar de fora da lista de isenção de tarifas. As indústrias estimam cortar mais 8 mil vagas no próximo ano (2026), caso a sobretaxa americana de 50% seja mantida.
Priscila Linck, economista da Abicalçados, explica que a manutenção dessa tarifa ao longo do final de 2025 e, principalmente, no ano seguinte, começa a comprometer as negociações que seriam embarcadas no primeiro semestre, ou seja, na próxima temporada. A expectativa é de que, com a continuidade da tarifa adicional, haja uma perda nas exportações totais em torno de 10% em 2026.
Nas fábricas, o tempo está se esgotando. Em uma delas no Vale do Sinos (RS), já houve redução na carga de trabalho para evitar demissões. Segundo as indústrias, ainda não há previsão de quando será possível buscar novos mercados, pois é preciso adaptar toda a produção.
O empresário Carlos Moschem afirma que procurou manter a equipe "na esperança de que essa situação mude, que essas tarifas caiam", destacando que "no fim do dia, são as pessoas que fazem a diferença".