Clube FM 104.7 - Tá na Clube, Tá Legal! | São Carlos/SP
Mitomania: quando mentir se torna um vício e uma maneira de tornar a realidade mais tolerável
Freepik

Quando o hábito de mentir se torna constante, involuntário e compulsivo, ele pode ser sinal de um transtorno psicológico conhecido como mitomania. Para essas pessoas, não contar a verdade é uma maneira de tornar a realidade mais tolerável.

Conversamos com especialistas para entender quando é necessário buscar ajuda, quais são os principais problemas do transtorno na vida social e para responder as principais perguntas sobre mitomania que os brasileiros fizeram no Google nos últimos cinco anos, conforme dados do Google Trends, levantados pela Sala Digital Band e Google:

Principais perguntas sobre mitomania no Google Gráfico: Sala Digital Band e Google Fonte: Google Trends

O que é mitomania?

A mitomania, ou mentira patológica, é caracterizada pela repetição constante de mentiras, muitas vezes sem um ganho claro para quem as conta. Pessoas que sofrem com o transtorno inventam histórias, distorcem fatos e vivem em uma realidade paralela, criando narrativas elaboradas — às vezes, tão bem contadas que enganam até os mais atentos.

No entanto, o mitômano não mente por maldade ou manipulação, como acontece em outros transtornos. Muitas vezes, ele mesmo acredita nas histórias que conta, como uma forma de lidar com inseguranças, traumas ou carência afetiva. “É como se a fantasia fosse um abrigo contra a dor de ser quem se é ou de não se sentir suficiente”, diz a psicóloga Claudia Melo.

Por isso, é importante diferenciar: a mitomania, não é falha de caráter, e sim uma condição que exige compreensão, investigação clínica e suporte terapêutico.

Pequenas mentiras são comuns. Mas a diferença está na frequência, na função e na perda de controle sobre isso. “A mentira comum é pontual e geralmente consciente. Já a mitomania é repetitiva, automática e pode fugir ao controle do indivíduo. Ela passa a funcionar como uma defesa psíquica, uma forma de mascarar dores, inseguranças ou a sensação de vazio existencial”, explica a doutora em psicologia Leninha Wagner. 

Como reconhecer um mitomaníaco?

O mitômano normalmente mente sobre diversos aspectos da vida: conquistas profissionais, relacionamentos, doenças, perdas, entre outros.

As mentiras tendem a seguir um padrão: são grandiosas, dramáticas e envolvem elementos que despertam empatia ou admiração. O problema é que, ao longo do tempo, essas histórias se tornam difíceis de sustentar, e as consequências aparecem: perda de credibilidade, afastamento de amigos, rompimento de laços familiares e até problemas legais.

“Na psicanálise, olharíamos para o sintoma como uma tentativa inconsciente de lidar com as angústias, carências ou fantasias internas. Já na neurociência, há evidências de que áreas cerebrais ligadas ao controle inibitório, por exemplo, como o córtex pré-frontal, podem apresentar algum grau de disfunção nesses casos”, considera Wagner.

Causas e diagnóstico

A mitomania pode surgir de histórias de abandono, exigência extrema, ausência de afeto ou validação. “Quando o indivíduo sente que sua verdade não é aceita, ele pode construir uma ‘identidade alternativa’ que pareça mais amável, mais admirável, mais segura”, avalia Melo. 

As especialistas explicam que, muitas vezes, os traços aparecem na infância ou adolescência, especialmente quando a criança sente que precisa “inventar” para ser vista, amada ou incluída. Mas também pode surgir na vida adulta, em momentos de crise de identidade, baixa autoestima ou experiências traumáticas.

O diagnóstico deve ser feito por um profissional de saúde mental. Em alguns casos, a mitomania pode estar associada a outros transtornos, como o transtorno de personalidade borderline ou narcisista.

Impactos na vida social 

Os impactos são profundos, principalmente no campo afetivo. A quebra de confiança gera afastamentos, insegurança e solidão. As especialistas explicam que socialmente, o mitônomo pode se isolar ou viver em constante tensão por medo de ser desmascarado, e isso pode levar a sentimento de vazio e culpa.

“A pessoa se afasta da própria essência, tentando sobreviver em meio às máscaras que construiu”, afirma Claudia. 

“Alguns mitomaníacos têm momentos de consciência, seguidos por arrependimento. Outros, no entanto, estão tão imersos em suas narrativas que têm dificuldade em distinguir realidade e fantasia criada por ele. Há uma oscilação entre negação e percepção, e esse movimento faz parte da complexidade do caso”, considera Leninha. 

Mitomania tem tratamento?

Sim. A mitomania tem tratamento — e quanto mais cedo for identificada, melhores as chances de sucesso. A psicoterapia costuma ser eficaz para ajudar a pessoa a identificar os gatilhos que a levam a mentir e a desenvolver formas saudáveis de lidar com suas emoções.

Em certos casos, pode haver indicação de uso de medicamentos para tratar sintomas como ansiedade, depressão ou impulsividade. Além disso, a rede de apoio é essencial. "A família precisa entender que a mitomania não é uma frescura ou um mau-caratismo, mas sim um transtorno que exige escuta, acolhimento e limites claros”, explica Wagner.

E Melo conclui: “É preciso lembrar que, por trás da mentira repetida, existe alguém que talvez nunca tenha se sentido suficiente para ser amado exatamente como é. O papel da família é oferecer amor firme, empatia e incentivo ao tratamento — não para corrigir, mas para reconectar o outro com sua verdade”. 

Fonte: Band.
Carregando os comentários...
Programação Clube com Programação Clube
Diego & Victor Hugo - Tubaroes (Remix Clube)
Carregando... - Carregando...