
A Polícia Civil de São Paulo deflagrou a Operação Octanagem, que teve como alvos postos de combustíveis nas cidades de Santos e Praia Grande, na Baixada Santista, e em Araraquara, no interior do estado.
A ação, que contou com o apoio do Instituto de Pesos e Medidas (IPEM) e da Agência Nacional do Petróleo (ANP), resultou no lacre de bombas de combustíveis em estabelecimentos ligados a empresários suspeitos de envolvimento com o Primeiro Comando da Capital (PCC).
Os postos são associados ao empresário Mohammed Hussein Murad, que já é alvo da Operação Carbono Oculto, da Polícia Federal. Essa investigação anterior descobriu um extenso esquema de lavagem de dinheiro do PCC, evidenciando o que as autoridades consideram ser um "império do crime".
O Novo Perfil Financeiro do PCC
As recentes investigações sobre o PCC revelam um aumento significativo e bilionário nas movimentações financeiras da facção. O antigo perfil da organização, focado na venda de drogas em porções nas periferias, teria sido substituído por uma atuação empresarial e financeira sofisticada, presente em centros financeiros e tecnológicos importantes, como a Avenida Paulista e a Faria Lima, em São Paulo.
Empresários ligados ao PCC, segundo apurações, possuíam cerca de mil postos de combustíveis espalhados por dezenas de cidades, utilizando o setor para lavar dinheiro proveniente do tráfico internacional de drogas e para praticar fraudes em combustíveis.
O leque de atividades econômicas com a participação do PCC, segundo as investigações, é vasto e inclui:
- Postos de gasolina e Agências de automóveis
- Setor imobiliário e Empresas de construção civil
- Casas de câmbio no Paraguai
- Bancos digitais, fintechs e fundos de investimento privados
- Criptomoedas (bitcoins)
- Empresas de ônibus no setor de transporte público
- Igrejas
- Mineração ilegal
- Organizações sociais de saúde pública, limpeza urbana e coleta de lixo
- Empresas de apostas e jogos de azar (bets)
- Empresas ligadas ao futebol
- Frotas de caminhões de transporte
- Terminais portuários
Em entrevista exclusiva concedida ao Brasil Urgente, a desembargadora Ivana David descreve essa transformação do PCC de uma associação de presos para uma "multinacional do crime".
Estrutura e Logística do Dinheiro
A estrutura hierárquica tradicional do PCC ainda é mantida, principalmente para garantir a disciplina interna e sustentar a estrutura social da facção. Esta inclui o fornecimento de ônibus para visitas de parentes em presídios, pagamento de advogados, uma espécie de pensão para famílias de presos em "missões" e até mesmo atendimento médico para membros feridos em crimes.
Contudo, as maiores fortunas do tráfico estariam concentradas naqueles que atuam na logística da droga e na lavagem de dinheiro. O empresário André da Rap, por exemplo, é citado como um transportador de cocaína de grande porte, mas que não ocupava cargos na hierarquia formal.
A Polícia Federal aponta que muitos dos empresários alvos da Operação Carbono Oculto sequer são "batizados" na facção ou se aproximam de um carregamento de drogas. A função essencial desses indivíduos é inserir o dinheiro ilícito no mercado financeiro formal, investir em fundos próprios e fazer o patrimônio do crime crescer em níveis extraordinários.